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"É ATRAVÉS DA VIA EMOCIONAL QUE A CRIANÇA APREENDE O MUNDO EXTERIOR, E SE CONSTRÓI ENQUANTO PESSOA"
João dos Santos
domingo, setembro 29, 2013
quarta-feira, setembro 25, 2013
Obsessões e Compulsões na Infância : do Normal ao Patológico..
“Um, dois, três, quatro, cinco, seis” – diz a criança no carro a contar as árvores ou postes que vão passando.
É habitual e até normal as crianças apresentarem, ao longo do crescimento, algumas obsessões. No entanto, com o desenvolvimento psicológico é espectável que esses pensamentos obsessivos e intrusivos desapareçam.
Como as crianças têm, normalmente, uma enorme dificuldade em relatar e descrever sensações, emoções e/ou sintomas, muitas vezes as suas as atitudes obsessivas e/ou compulsivas podem ser mal entendidas pelos pais, os quais tentam corrigir com chamadas de atenção, castigos ou agressões.
É importante, então, compreender do que se trata quando se fala de Perturbação Obsessiva-Compulsiva da Personalidade.
A obsessão é caracterizada pelo perfeccionismo, pela preocupação excessiva com detalhes, regras, listas, ordens, organização ou horários, entre outros. É comum que esta se desenvolva antes das obsessões ou, até mesmo, que exista sem obsessões (no caso das crianças). E há diversas formas de se mostrar. Por exemplo:
- Ideias obsessivas de Dúvida - dificuldade em acreditar que determinada tarefa foi feita da forma certa. Ex: Nestes casos, os cadernos das crianças têm muitos sinais de borracha por terem apagado e escrito muitas vezes a mesma palavra
- Ideias obsessivas de Sujidade e Contaminação – estão relacionadas com temas como pó, sangue, doenças. A criança pode ter ideias obsessivas quanto à sua auto-estima, achando-se suja por exemplo.
Por sua vez, a compulsão, é um comportamento sistemático, repetitivo e intencional que surge, muitas vezes, devido à ansiedade causada pela obsessão ou para evitar que alguma situação que assusta a criança realmente ocorra. Por exemplo: “se eu não bater na madeira 3 vezes, alguém de minha família vai ficar doente”... “se eu não rezar 2 vezes essa oração, o monstro mau aparece debaixo da cama”...
As compulsões mais comuns são:
- Limpeza e descontaminação - como por exemplo, lavar mãos, roupas, objectos pessoais repetidamente
- Verificação - diz respeito à necessidade absurda de testar, conferir ou examinar repetidamente as coisas para conferir que ficou bem feito. Por exemplo, voltar inúmeras vezes para confirmar se a porta está fechada, a luz apagada, a janela fechada, a gaveta fechada, etc.
- Repetir ou tocar - muito comum também, uma vez que a própria característica das compulsões é a repetição. Acender e apagar a luz diversas vezes para aliviar a ansiedade da dúvida de ter deixado acesa .
33 a 50% das pessoas referem que o início da perturbação ocorreu na infância ou adolescência pelo que é preciso estar atento quando um pequeno grau de obsessões não só se mantém como, diversas vezes, aumenta e domina o dia-a-dia da criança, colocando-a num enorme sofrimento pois, por vezes, o inicio é repentino e muito claro para as pessoas em redor; outras vezes é insidioso e pouco óbvio.
Outro sinal que poderá ser valioso para os pais diz respeito ao rendimento escolar. Este, por norma, tende a diminuir como consequência da menor capacidade de concentração da criança, que se encontra dominada e assaltada por outros pensamentos que não aqueles que dizem respeito à aprendizagem.
Acima de tudo, independentemente das diversas características que a Perturbação Obsessivo-Compulsiva pode ter e apresentar, é fundamental compreender se o bem-estar da criança está a ser posto em causa pois, muitas vezes, a criança, devido às obsessões e/ou compulsões, sofre internamente, muitas vezes de forma silenciosa, e nestes casos é importante procurar ajuda especializada.
A intervenção precoce nestes casos pode evitar a consolidação de funcionamentos muito angustiantes para a criança.
É fundamental nunca esquecer que, a infância, apesar de repleta de contos infantis com finais felizes, salas de brinquedos e muita inocência pode, naturalmente, ser contaminada por dúvidas, medos, receios e/ou angústias. Que são válidas e legitimas e que devem ser ouvidas e tratadas para que a criança e os pais consigam dar um nome ao sofrimento que não entendem e reconhecem.
sexta-feira, setembro 13, 2013
Fobia Escolar
O Início do ano lectivo está aí e o retorno ou a entrada na escola nem sempre é calma e tranquila para todas as crianças.
Há sempre algum nervosimo e ansiedade no retorno, pode mesmo para alguns atingir niveis muito elevados de ansiedade e angustia com uma recusa total à escola: a Fobia escolar
A Fobia escolar afecta, cerca de 5% de crianças do jardim de infância, e cerca de 2% de crianças do ensino básico registando-se uma maior incidência de fobia escolar no primeiro ano lectivo da criança.
No entanto não é raro que a fobia escolar apareça no, 2º ciclo, ou secundário ou até mesmo na entrada da faculdade, pois como referido estas manifestações estão muito associadas a “ansiedade face ao desconhecido” e as mudanças de ciclo escolar, são sempre algo muito significativas para a criança e /ou adolescente.
O que caracteriza uma fobia escolar?
A Fobia escolar é um medo exacerbado que a criança sente em ir para a escola.
A Fobia escolar é uma perturbaçao da ansiedade e tem tratamento.
Numa situação típica de fobia escolar, a criança/jovem logo de manhã acorda com queixumes de dor de barriga associado por vezes a vómitos, diarreias, dor de cabeça, com intensificação do sintoma à medida que se aproxima a hora de ir para a escola, com verbalização do tipo “…não quero ir para a escola…” ou por vezes na véspera poderá surgir a questão “…amanhã é dia de ir para a escola?...” Despertando nos próprios pais alguma ansiedade na busca de melhor lidar com a situação e não deitar tudo a perder.
Na Fobia escolar da criança está, quase sempre, latente uma grande “ansiedade de separação” dos seus pais e do mundo que lhe é familiar e no qual se sente protegido.
Estas crianças geralmente, apresentam também, dificuldades em dormir sozinhas, medo de ir para casa de amigos, entre outras relutâncias em se distanciar das pessoas com as quais passa a maior parte do tempo.
Esta fobia escolar ou recusa ansiosa escolar é mais frequente no primeiro ano lectivo da vida da criança. Na fobia escolar, a criança fala da escola sempre com medo, negativismo e pode chorar para não ir.
Até se transformar na ‘segunda casa’, a escola representa um mundo desconhecido. Por isso, nos primeiros dias de aula, os sintomas podem ser mais intensos porque a criança se vê às cinco minutos parece uma eternidade.
Na escola, é muito comum, que a criança se afaste dos colegas, se isole, não brinque, já que se sente muito mal lá dentro.
Além da manifestação explícita de não querer ir à escola, a fobia escolar pode atingir sintomas tais como :choro frequente, suores frios ou tremores, diarreia, vómitos, medo de ficar sozinha, medo de algo abstracto, incapacidade de enfrentar o problema sozinha, perda do apetite, voltar a urinar na cama, insónias, pesadelos, entre outros.
A fobia é um problema que difere completamente de preguiça ou má vontade, e do absentismo. Os próprios pais percebem isso no comportamento da criança. Também é diferente da recusa esporádica em ir à escola, especialmente após as férias.
No caso da fobia, as crianças regressam a casa, apresentam ansiedade com sintomas psicossomáticos, enquanto que os absentistas não vão para casa, não sentem ansiedade, nem sintomas. Enquanto que nas fobias as crianças têm um perfil caracterizado por serem conscienciosas, perfeccionistas e bem comportadas, nos absentistas manifestam comportamentos desajustados ou delinquentes. Esta distinção é importante que seja feita, para um modo de abordar e intervir adequado pelos próprios pais.
Geralmente, as crianças que desenvolvem essa ansiedade e medo incontroláveis são boas alunas e não perdem rendimento escolar.
Quando o problema surge é essencial que a equipa da escola saiba o que está acontecendo, pois, muitas vezes, uma figura de confiança do aluno deve acompanhá-lo e permanecer por um determinado período no ambiente escolar, até que ele desenvolva autoconfiança. Os próprios coordenadores podem, por vezes, desempenhar este papel, ao ficarem mais próximos deste aluno, encorajando-o a ponto de se sentir bem na sala de aula.
O que pode estar na origem deste tipo de fobia?
Os motivos que levam a criança a desenvolver fobia escolar podem ser vários ou uma associação deles. Dentre eles estão a predisposição biológica (genética), a mudança de escola, professor severo, conflito com colegas, o temperamento da criança, a vulnerabilidade à acção do ambiente familiar( mudança de casa, divórcio dos pais, morte de um familiar, conflitos familiares), e até mesmo a preocupação excessiva de alguns pais com a separação dos seus filhos.
Os sintomas da fobia escolar estão fortemente associados ao tipo de relação da criança com seus pais, desde o nascimento até a idade pré-escolar.
Porém, é interessante salientar que duas ou mais crianças que recebem a mesma educação, tanto escolar quanto familiar, (filhas dos mesmos pais), não significa necessariamente que todas irão desenvolver fobia escolar.
A fobia escolar também pode ter origem em agressões verbais ou físicas de que a criança foi vítima na escola ( ou seja, ser vítima de bullying).
Em que é que difere de uma ansiedade normal no regresso às aulas?
O primeiro ou primeiros dias desencadeiam naturalmente algum nervosismo, perante a ideia de novos professores, nova turma, nova escola ou simplesmente a mudança de rotina das férias para as aulas, até os mais calmos poderão ficar afectados nas primeiras semanas de aulas.
Outros casos existem em que a ansiedade normal pode dar lugar a medos mais significativos. As fobias ocorrem com frequência nas crianças e por vezes desaparecem espontaneamente, sinal que a criança conseguiu ultrapassar os seus receios.
No caso específico da fobia escolar, enquanto perturbação emocional que desencadeia uma resposta fóbica face à escola, inicialmente não deverá ser motivo de alarme, de um modo tranquilo os pais deverão sempre incentivar e encarar com optimismo a hora de ir para a escola, sem forçar bruscamente mas persistir no cumprimento da assiduidade escolar.
Caso este comportamento persista para além de dois meses, será importante procurar outro tipo de suporte de modo a evitar o agravamento da situação, mesmo na futura vida escolar e social da criança/jovem.
O que podem os pais fazer para ajudar os filhos com fobia escolar?
È muito importante que os pais, não ridicularizarem ou subestimem os medos da criança, pelo contrário, devem mostrar compreensão.
Porém, também devem facilitar que a criança se afaste da escola. No momento de ir para escola os pais devem ser firmes, mas respeitar a limitação de seus filhos, pois para eles já é muito difícil estar com esta dificuldade.
È importante Incentivar a criança a ir à escola, nunca obrigá-la e tentar tranquilizá-la, que no fim do dia volta a estar com os pais. Por vezes os pais poderão mesmo ter de permanecer durante alguns periodos na escoal para ajudar a criança a tranquilizar-se.
Manter o máximo de diálogo com a criança
Ajudar a criança a encontrar o meio de superar o obstáculo
Fazer com que os amigos sejam elementos importantes na inserção na escola.
Se os sintomas persistirem para além de dois meses, e em casos mais críticos, os pais devem encaminhar o filho para psicoterapia.O tratamento da criança com fobia escolar deve ser abrangente: é necessária a participação efectiva da escola, dos pais e do psicólogo. Essa interacção, entre todos e esse envolvimento é que vão fazer com que a criança supere a fobia.
É fundamental que os pais fiquem atentos quanto à procura de profissionais especializados ( psicólogos ou psicoterapeutas) dado que esta fobia pode ocasionar um afastamento da escola, fracasso e repetência escolar, vergonha de enfrentar novamente os colegas, entre outros factores.
Todos estas consequências reduzem a auto-estima da criança, com consequências para o resto de sua vida. Além disso, a tendência de uma criança com fobia escolar, se não for ajudada a ultrapassar a situação, é que desenvolva outros medos, como, por exemplo, de elevador, animais, escuro, etc. Enfim, os danos são grandes quando se adia o tratamento.
Procurar ajuda, ouvir as diretrizes dos profissionais envolvidos e poder dividir as dificuldades que possam encontrar no tratamento de seu filho, contribuirá efetivamente na maravilhosa tarefa de ser pai e mãe e no desenvolvimento de uma criança feliz.
Publicada por
CRESCER: Centro de Psicologia da Família, Criança e Adolescente
à(s)
09:25
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